A obesidade é uma doença de etiologia complexa multifatorial cuja prevalência vem aumentando cada vez mais na população brasileira e no mundo. A terapia mais amplamente recomendada para o tratamento da obesidade é a modificação do estilo de vida, com foco na adequação da alimentação e na prática de exercício físico.
No entanto, a implementação dessas mudanças que podem levar a uma perda de peso é difícil e a manutenção da perda de peso a longo prazo é ainda mais desafiadora. Portanto, são necessários esforços para o desenvolvimento de estratégias eficazes e inovadoras que auxiliem o tratamento e a prevenção da obesidade.
Um crescente corpo de trabalho no campo da obesidade e de integração baseadas no cérebro, indicam um potencial para projetar novas intervenções terapêuticas. A estimulação transcraniana por corrente continua (ETCC) é uma técnica de modulação não invasiva da atividade cerebral que vem demonstrando, por meio de estudos recentes, contribuir para reduzir o desejo de alimentos, a ingestão alimentar e o peso corporal, por melhorar os processos cognitivos, que são a chave para a auto-regulação do comportamento alimentar.
A ETCC é uma técnica que apresenta vantagens significativas como a segurança, tolerabilidade, baixo-custo, portabilidade, além de ser de fácil aplicação. Essa proposta inovadora de pesquisa clínica utiliza uma intervenção biomédica que poderia transformar o paradigma para a perda de peso e a manutenção da perda de peso, oferecendo uma nova forma de tratar a obesidade. Embora pareça haver potencial para o uso da ETCC como um modulador do apetite, o avanço é desafiado pela falta de compreensão dos mecanismos de ação e das fontes de variabilidade da resposta entre os indivíduos.
Dadas essas descobertas, um estudo publicado recentemente avaliou os efeitos da ETCC aplicada no córtex pré-frontal dorsolateral, isoladamente e em combinação com uma dieta hipocalórica, no apetite e no peso corporal de mulheres com obesidade e investigou se a variabilidade genotípica poderia influenciar os efeitos da ETCC.
De uma forma geral, nossos achados permitem entender os mecanismos pelos quais a ETCC pode alterar o apetite, identificando o genótipo COMT Val158Met como um dos principais contribuintes para as respostas individuais. Nossos resultados sugerem que as diferenças genotípicas que afetam os níveis de dopamina influenciam os efeitos da ETCC aplicada no córtex pré-frontal no apetite de mulheres com obesidade.
O estudo foi realizado pela pesquisadora Priscila Giacomo Fassini no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto FMRP-USP, e as análises foram desenvolvidas durante o seu pós-doutorado na Harvard Medical School em Boston nos Estados Unidos. Este estudo contou com colaboração dos pesquisadores Dra. Vivian Marques Miguel Suen e Dr. Júlio Sérgio Marchini, da FMRP-USP, a pesquisadora Sai Krupa Das, da Tufts University, e os pesquisadores Miguel Alonso-Alonso e Greta Magerowski, da Harvard Medical School, dos Estados Unidos.
Mais informações sobre o estudo estão disponíveis nas publicações: Fassini et al., Appetite 2019 (DOI 10.1016/j.appet.2019.05.015); Fassini et al., International Journal of Obesity 2020 (DOI 10.1038/s41366-020-0545-3) e Agência Fapesp: http://agencia.fapesp.br/grupo-da-usp-avalia-efeito-da-neuromodulacao-nao-invasiva-no-tratamento-da-obesidade/31152/
Texto elaborado pela Dra. Priscila Giacomo Fassini
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